terça-feira, 10 de maio de 2011

E para começar...

Fran´s Café - Botafogo Praia Shopping


A cafeteria abriu faz pouco mais de uma semana.
O cardápio tenta abraçar café da manhã, almoço, chá da tarde e jantar. Por enquanto, cumpre a missão.
Os sanduíches e wraps que pedi foram feitos com capricho, apesar do queijo sofrer do grande mal de todos os queijos (e presuntos) do RJ e SP: não tem gosto, apenas sal.

As sopas no pão Italiano são uma boa pedida para quem quer chegar mais leve em casa, ao final do dia.
Destaque para os Smoothies (shakes de sorvete e frutas) e o saboroso pudim de café, que recomendo fortemente!


Sopa no pão italiano

Drinques variados de café. O de conhaque com chocolate precisa melhorar, deixei a metade da bebida no copo pois ocorreu algum problema com o derretimento do chocolate (parecia mais um “flan”).

Como toda casa nova (digo nova nesse local, pois a franquia já possui outras 4 lojas na Barra da Tijuca) os atendentes ainda estão muito simpáticos e de boa vontade, apesar do pouco conhecimento do cardápio. O preço médio por pessoa considerando entrada, refeição principal, sobremesa e café é de R$ 35,00.

Vamos a minha parte preferida: o café!

Alguns dias antes, degustei um espresso (sempre curto ou menor, sempre, sempre, sempre) que foi bem extraído pela barista, visto que era véspera de Dia das Mães e casa lotada.

Apesar de corretamente servida, a bebida não se mostrou muito saborosa, aroma fraco, forte amargor e raríssimos ácidos. Diria que esse café pode ser um blend (preciso ainda ver os grãos) com predominância para mogiana (procedência) e a xícara degustada era bebida mole (tive que repetir a degustação para concluir), encorpada (em artigos futuros desse blog ainda veremos o que isso significa), com aftertaste levemente adocicado e pouco persistente. Essa foi a minha prova cega.

Em minha última visita, perguntei sobre o grão, mas ninguém sabia informar nada a respeito (também não entrei no site, se existe). Esse tipo de situação é comum aqui no Rio e acaba por atiçar minha curiosidade sobre o produto. Tomo essas situações como desafio de degustação e após minha classificação (nesse caso, apenas sensorial, pois não tenho o grão cru para classificá-lo corretamente) confronto com as informações que consigo obter com o fornecedor.

Pedi para ver a embalagem onde não existe qualquer informação do café, apenas um endereço de São Paulo, onde não fica claro tratar-se de empresa, fazenda ou seja o que for (nesse momento, meu palpite sobre mogiana esquentou). Existe um selo de pureza da ABIC (também será alvo de papos futuros). Importante deixar claro que esse selo de pureza é o mais básico de todos (muitos cafés tradicionais possuem) e garante apenas a ausência de defeitos extrínsecos no café (paus, pedras e cascas). No local destinado para data de validade não existe data de torra, consta apenas vencimento em algum mês de 2012 (?). Isso realmente é muito grave e merece um parágrafo à parte.

Sou obrigado a entrar nessa questão da apresentação do café. Não se pode exigir muito de um pequeno fornecedor que produz e entrega seu café artesanalmente. Mas a embalagem de um café que é vendido para o varejo em grandes centros comerciais na maior franquia de cafeterias do país, precisa ser informativa. A falta de dados sobre o produto me faz desconfiar imediatamente de pelo menos uma dúzia de irregularidades que “podem existir” e são escondidas pela ausência de informação, o que não deixa de ser uma forma de se aproveitar do público leigo. Um exemplo também comum nos dias de hoje são as televisões LCD, LED e Plasma que não informam resolução nem contraste e quando isso acontece, é porque não são FULL HD. Por favor, não estou dizendo que seja o caso deste café em especial, pois tais práticas equivocadas já se tornam regras em nosso mercado e a pressa e falta de critério para vender o produto acaba por resultar nesse tipo de problema.

Da mesma forma que o produto pode ser muito bom e suas qualidades podem ser desperdiçadas no momento da venda (deixa de vender) também pode ter sido torrado a mais de um ano, sem falar que o grão cru pode ser de qualquer safra dos últimos 20 anos! No mínimo, o grão cru de maio de 2011 já tem um ano, pois a safra de 2011 ainda começa em maio/junho deste ano, mesmo período para a safra anterior de 2010. Isso mesmo, é aterrorizante mas é verdade. Vejam então a importância da regulamentação e das embalagens informativas.

Está na hora de sabermos o que estamos comprando com nosso suado dinheiro. Você compra chocolates e vinhos sem data de fabricação? Então porque aceitaria um café sem data de torra e/ou safra? Eu encontro todos os dias nas gôndolas dos mercados cafés com validade para um ano a às vezes, superior. Se um ano já é tempo demais para grãos torrados, imagine então café moído com validade de um ano.

Então vem a pergunta: “Mas Fabiano, e a embalagem a vácuo?”
Imagine que uma lâmpada normal, mesmo no suposto vácuo, já sofre oxidação por pequenos e progressivos orifícios por onde se dá a ação do oxigênio. Você acha então que a embalagem a vácuo de um café é perfeita?

Me desculpem por me estender demais, mas tem que ser assim.
Comprei então 1 Kg do grão torrado (não existia menor) por algo em torno de R$ 36,00 (para o seu bem não vou falar de preços agora...). Para minha alegria, fiquei surpreso e ao mesmo tempo honrado por ter sido a primeira pessoa a comprar o grão naquela loja!

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Tentei várias vezes entrar em contato com o atendimento ao cliente do Fran´s, mas não consegui falar com ninguém. Vamos então prosseguir com a análise do grão.


Os tipos de grãos realmente variados reforçam a impressão que tive quando achei que era blend (mistura de vários grãos). Peneira 16 e acima, com algumas variações abaixo, embora insignificantes. O café apresenta pouquíssimos defeitos, mas apenas se tivesse o grão cru em mãos poderia me aprofundar na classificação.

Como alguns grãos apresentam brilho, um classificador precipitado poderia dizer que a torra passou do ponto, mas a torra está perfeita e uniforme. Provavelmente existem problemas de embalagem, transporte e conservação do grão após o lacre, mesmo sendo valvulada.


No "cupping", minhas expectativas foram superadas. Ao provar o espresso (na loja) alguns dias atrás foi difícil classificá-lo como bebida mole, mas tive o pressentimento de que outros fatores poderiam impactar pois as demais características da bebida estavam em patamar bem aceitável para café especial. Fora da máquina da loja e seguindo o padrão correto de degustação de café, não tive dúvidas quanto ao fato de que se trata de bebida mole, predominante amarga com contrastes ácidos e aftertaste adocicado (notas de baunilha).

Muito instrutivo para o leitor do blog e aspirante a degustador que notar a existência de uma discrepância entre a bebida degustada e a que é vendida. Concluímos que existem outros fatores atuando na loja, interferindo na extração do espresso. Não é "Atividade Paranormal", na verdade trata-se de coisa bem simples, mas vou parar por aqui, pois faço de graça para esta simpática cafeteria o que geralmente cobro para fazer.



É bem provável que a esta altura o leitor do blog que aguentou chegar até aqui não tenha entendido 70% do que expliquei. Por favor, não desistam de mim e nem se desesperem, pois de forma proposital lhes dei uma amostra em escala muito reduzida do que é o trabalho de um classificador, ainda falta aqui o grão cru para classificação de defeitos e inúmeros outros testes que variam de acordo com a necessidade do cliente. Minha intenção é instigar sua curiosidade para que tenhamos um interesse crescente na classificação e degustação dessa bebida fantástica. Tudo a seu tempo, amigos.

Abraços e obrigado pela participação!

Fabiano

3 comentários:

  1. Fabiano
    Parabéns pelo artigo.
    Ontem mesmo estive em um supermercado, e tentei identificar o "tipo" de café pelas informações da embalagem.
    Tarefa impossível, mas o que gostaria de saber na verdade é o seguinte, os cafés mellita e pilão são arábica,conilon ou blend.
    Abraço e Sucesso.

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  2. Oi Gustavo, obrigado pela participação.

    As informações da embalagem, quase sempre são omissas e isso não ocorre por acaso, infelizmente muitas empresas ainda podem agir assim em nosso país.

    Depois eu vou fazer uma postagem com fotos de embalagens corretas.

    O Brasil é o maior produtor mundial de café e o café do Sul de Minas está entre os melhores do mundo, mas o que dá dinheiro é o café de baixa qualidade.

    Tenha em mente que ao comprar café de baixa qualidade estamos apunhalando todos os produtores que já atiraram no próprio pé ao venderem produto barato e ruim, enquanto a indústria aumenta a margem de lucro e o povo continua sem informação.

    Eu vou sempre falar a ve
    rdade aqui, pois o nosso objetivo tem que ser expandir a cultura do grão e não ficar fazendo política com empresas que não são transparentes com seus clientes.

    O Pilão normal é café tradicional apesar de possuir em seu blend algo de arábica, é um arábica com muitos defeitos e o meu paladar acusa canephora na mistura. Já o Melitta, trabalha com 100% arábica, mas também é arábica com muitos defeitos e safras sabe-se lá de quantos anos atrás.

    A instabilidade da produção desses rótulos leva a uma variação por lote impressionante. Às vezes colocam blend no mercado, às vezes não. Da mesma forma que em um mês você pode até achar um pacote com qualidade no máximo "passável" e no outro mês, um produto insuportável.

    Infelizmente esses cafés tradicionais também trabalham com fornecedores múltiplos, não possuem fazenda própria e pedem café de baixa qualidade para as cooperativas, que precisam se manter.

    Essas empresas tentam se atualizar e colocam variações com rótulo de "especial" etc que nada mais são do que variações de torra com preços de café especial. A Melitta lançou três cafés da Mogiana, Cerrado e Sul de Minas e os grãos realmente procedem desses lugares e são 100% arébica, mas a qualidade não me agradou nem um pouco.

    Gustavo, não sei se você tem oportunidade de visitar algumas cafeterias especializadas no Rio de janeiro, caso tenha, tenta comprar café nesses locais, ao invés de supermercados.

    Caso não tenha opção e realmente precise comprar café em supermercados, recomendo o Pão-de-Açúcar em primeiro lugar e o Zona Sul em segundo. Procure os cafés Astro, Toledo, Floresta, Primma Qualitá que ainda estão com qualidade esse ano, principalmente os que possuem embalagem valvulada ou a vácuo.

    Tenha em mente que qualquer café que você comprar hoje será safra 2010, pois a safra 2011 está começando em maio e os bons cafés desse ano ainda surgirão.

    Aos poucos vou postar mais sobre defeitos do café, pois é complicado e tem que ser devagar, senão as pessoas não lêem.

    Abraços!

    Fabiano Daher

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